Os preços dos equipamentos para geração de energia solar dispararam com o agravamento da crise energética na China, principal fornecedor mundial da indústria fotovoltaica. Segundo fabricantes e distribuidores de equipamentos, os preços dos painéis, que já estavam sob pressão, voltaram a subir com paradas pontuais em fábricas de silício, componente que pode representar até 60% do custo do painel.
As empresas fornecedoras não trabalham com a possibilidade de escassez de produtos, mas dizem que enxergam um cenário de preços conturbados até pelo menos junho de 2022. Apesar disso, o consenso é que o crescimento do mercado solar não está ameaçado – demanda por sistemas de geração, seja para grandes empreendimentos ou energia solar em telhados, tem sido tão forte que as perspectivas permanecem positivas.
Os preços dos painéis e inversores iniciaram uma tendência de alta no ano passado, devido ao rompimento das cadeias produtivas ocasionado pela pandemia Covid-19, além do próprio aumento da demanda com a adoção da tecnologia solar em todo o mundo. No final de 2020, o setor ainda sofria com a escassez de vidro, e agora o grande problema é o silício. No caso do Brasil, soma-se a esse cenário a depreciação cambial – os principais componentes dos sistemas fotovoltaicos são importados, e a China é responsável por cerca de 80% da produção mundial de painéis.
Na opinião da fabricante canadense canadense Canadian Solar, os preços devem permanecer sob pressão nos próximos meses.
“A falta de material é muito improvável, mas veremos uma necessidade maior de programação por parte dos clientes. As incertezas freiam o ímpeto comercial, as empresas passam para o modo de segurança, aguardando que o abastecimento volte à normalidade ”, disse Pedro Alves, diretor executivo para a América Latina da Canadian Solar.
Uma das líderes mundiais na indústria fotovoltaica, a Canadian Solar produzia painéis no Brasil, mas fechou sua fábrica. Hoje, todos os materiais que fornece são importados. Segundo Alves, a empresa já tem estoque local de 2.000 a 3.000 contêineres e diz estar pronta para atender a demanda sem grandes dificuldades nos próximos meses.
Na Aldo Solar, que fornece equipamentos para mini e microgeração solar, o terceiro trimestre começou com uma perspectiva promissora, mas a crise no mercado chinês logo trouxe uma mudança de rumo. Um dos maiores problemas é a questão logística.
“Os armadores não dão garantias de embarque. Estamos atrasados em média cinco a oito semanas, com contêineres no chão. Eles estão pulando o porto [de Paranaguá], porque não há espaço nos navios que vêm para a América Latina ”, disse Aldo Teixeira, fundador da distribuidora.
O executivo disse que o fornecimento está garantido para o que estava programado para meados do ano. “Se tivéssemos capacidade para dobrar os volumes, o faríamos. A demanda é muito alta. ” Fundada em Maringá, no Paraná, a Aldo Solar foi adquirida este ano pela Brookfield Business Partners, braço de private equity da gestora de recursos.
Do lado dos investidores, o aumento do custo dos sistemas de geração tenderia a desacelerar o crescimento do mercado solar, mas o mercado não aposta nisso. A Aldo Solar, por exemplo, prevê dobrar seu faturamento em 2021 para R $ 3,2 bilhões, com a expansão da geração solar para residências e empresas.
Rodolfo Meyer — Foto: Claudio Belli/Valor
“A conta de luz subiu muito com reajustes e bandeiras tarifárias, e isso praticamente compensou o aumento do custo do painel solar. É por isso que a demanda continua acelerando, ainda é um bom investimento. O retorno dos sistemas permaneceu inalterado ”, disse Rodolfo Meyer, CEO da Solar Portal.
De acordo com levantamento do Portal Solar, marketplace online de energia, o investimento total para a instalação de um sistema de potência de 2 quilowatts-pico, para uma conta mensal de energia de R $ 250, é de R $ 16.700. O número está 15% acima do nível verificado em março de 2020, antes da pandemia.
“Nesse caso, o retorno do investimento acontece em pouco mais de cinco anos. Para sistemas maiores, de 52 kWp, para contas mensais de até R $ 7.000, o retorno é de três anos, é um grande investimento ”, disse Meyer.
A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) disse que o setor enfrenta “dores de crescimento” em todo o mundo. O responsável pela entidade, Rodrigo Sauaia, destaca que os principais fabricantes estão a expandir a capacidade de produção, pelo que a situação do abastecimento tende a melhorar a médio prazo.
No caso de grandes projetos solares, o aumento nas despesas de capital pode adiar os projetos. No entanto, Sauaia entende que, neste momento, as empresas de geração estão olhando mais para outros fatores, como a maior demanda por contratos de longo prazo no mercado livre de energia e a janela até o fim dos subsídios para fontes renováveis. A associação prevê que o Brasil atingirá 12,5 gigawatts de capacidade instalada de energia solar neste ano, um aumento de 60% em relação a 2020.